Eu tive que admitir que tenho saudades de Saudécia.
Já não tenho mais noção de tempo e espaço. Não sei quanto tempo estou aqui confinada com esses extraterrestres bizarros, encapuzados.
Às vezes parecem dinossauros, outras parecem humanoides, mutantes, outras vezes são apenas plantas. Eles se movem diante de mim e me fazem lembrar o quanto sinto falta de Saudécia.
Eu governaria tudo aquilo. Saudécia... Meu pequeno pedaço de terra a ser explorado, ressequido, escravizado.
Por que eles não me mataram? Isso não me sai da cabeça.
Teria sido melhor...
Estão mexendo com minha cabeça aqui, minha mente não é mais minha. Eles sabem do que eu sei?
Tenho que tentar resistir. As forças estão escassas e as dores de cabeça aumentam.
Sinto uma pressão nascer no meio dos meus olhos. Como uma agulha fina penetrando meu crânio. Lá dentro ela se abre como um guarda-chuva e pá! Eu sinto bolhas e espumas. Minha cabeça está sob um peso de cinquenta quilos.
Todos os gritos são abafados por esse tipo de prisão hermética em que me encontro.
Me pergunto se os sanatórios seriam assim...
Flashes. Escuridão, luzes, luzes, luzes. Elas são muito claras!
Agora são os verdes começando a colorir a tela. Surge Saudécia bem na frente dos meus olhos.
Uma camponesa sentada sobre um tufo de feno. Ela é muito jovem mas está com um bebê nos braços. Parece cansada, mas feliz. Ela acena com a cabeça para outra que passa por ela, por um caminho na terra batida. Um cavalo relincha. Vejo a feira dos mercadores. Vejo carroças.
Pisco várias vezes, aquilo não era real. Vejo agora os arranha-céus. Minha casa, minha mansão cercada de pinheiros, cercas-vivas, e o mais moderno sistema de segurança. Eu estava protegida. E eu tinha luxo ali. Muito. Isso sim era Saudécia. Era ter tudo que me apraz. Eu era a dona. E em breve eu seria a governadora de tudo.
Isso também não era real.
O que estão fazendo comigo aqui? Preciso retornar à Saudécia! Eu não sou uma tirana. Eu preciso governá-los para o bem deles.
"Heeeeeeey! Suas bestas mutantes, seus lagartos nojentos! Me tirem daqui! Eu ordeno que me tirem daqui!" - grito em vão.
Saudécia é real, sei que é.
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