sábado, 19 de novembro de 2016

Ratos

- Você tem que se mudar!
- Mas é a minha casa... - resmunguei, quase num choramingar.
- Era sua casa! - ela foi enfática.
- Para onde eu vou? Para a casa dos meus pais?
- Vá para qualquer lugar, more debaixo de uma ponte, mas saia daqui.
Ela tinha razão. A casa não era mais minha. Era dos ratos. Percebeu que eu finalmente compreendia.
- Eu sei que você tentou se livrar deles. Mas seu coração não permitiu que você matasse sequer um deles. Mas agora, olhe ao seu redor... Eles estão em toda a parte, comem sua comida, bebem sua bebida, deitam em sua cama. Eles te dominaram e você deixou. Não por ser fraco. Mas porque você era muito bom. Não quis matá-los. Agora eles estão matando você, roendo pedaço por pedaço seu. Abusaram de você, te escravizaram. Eu sei que você não vai atear fogo nesta casa. Sei que não vai pedir educadamente que se retirem. Você já está morto, se continuar aqui por mais um dia. Mesmo que não consiga se livrar dos ratos, pelo amor de Deus, pegue uma muda de roupa, vamos embora. Você tem que se mudar!
Nesse momento, olhei ao redor e não tinha mais nada pelo que lutar ou insistir. Os ratos já tinham tudo pra eles. Era tudo deles. Exceto eu. Eu precisava ir e não precisava levar nada.

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