segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ligação para Anita

- Anita, você está aí? Oi? Oi?
Telefone mudo.

Eu espero. Quanto tempo terá passado?
Ouço uma respiração. Inspira, expira. Inspira.
Ela fala:

- Sim. Eu estou aqui.

Meu peito se alivia. Parece que a voz dela, mesmo embargada, me liberta de algo. Me liberta de minha monstruosidade. E eu penso "Anita não está morta" e isso me conforta. Mesmo sabendo que ela sofre, carregar a culpa do sofrimento dela é mais suportável do que ser o assassino de Anita.

O que eu pensei? Que ela morreria por mim? Que ela morreria por estar sem mim? Que presunção!
Mas, o que eu estou fazendo? Ela não está morta. Mas eu ainda estou tentando matá-la. Eu não consigo evitar ligar para ela nas madrugadas mais silentes, nos dias mais modorrentos.

Eu ligo, espero. Espero. Sei que ela sofre. Mas eu ligo.
Eu ligo...