domingo, 23 de outubro de 2011

Domingo de sem ninguém, só.

Ela olhou na direção do ralo do box esperando, concentrada, com toda atenção, que de lá surgisse uma barata. E esperou por 2 horas, que foi o tempo suficiente para perceber que não estava sozinha em seu apartamento. Bendisse o dia, não tomaria o café da manhã, sozinha, afinal. Nem interessava quem era, faria café para dois. Arrumou a cafeteira, ligou e esperou.
Ele/ela (intruso/intrusa), quem quer que fosse, esperou também. A cafeteira fez um sinal sonoro. Ela se levantou, ainda com seu roupão acinzentado, meio morto, arrastando os pés e apanhou duas xícaras. Xícaras de porcelana. Ah brindemos com café. Hoje é um grande dia!
Ela estava realmente feliz que fosse domingo. Estava feliz que isso fosse num domingo. Pena que não se preparara “adequadamente” para essa hora.
Serviu as duas xícaras sem ao menos olhar. Logo, derramou café quente sobre a mesa, sobre a toalha puída da mesa, aquela com desenhos de melancias, melancias fechadas, tiras de melancias. Mas ele nem nunca gostou daquela toalha mesmo. Foi um presente de quem não se sabe mais, para ninguém. Poderia dizer, sem prejuízo, que fora qualquer uma das inúmeras coisas achadas no lixo. Ninguém quer, então...
Nada para comer.
Depois de 2 minutos - a espera parecia infinita -  o café já se esfriara o suficiente para se tornar repulsivo. Amargo e repulsivo, como a ânsia da ressaca. Ela estava de ressaca da vida.
-Pode vir! Você quem quer que seja! Seja minha companhia esta manhã... – o silêncio fora finalmente rompido, mas a voz dela “manquejou” no fim da sentença, como a voz dos embriagados.
Um vulto percorreu o canto do seu olho direito e se pôs ao lado dela. Era a beleza na forma humana. Podia ler tudo nos olhos dela, ver tudo. O filme. O tão falado filme da sua vida antes da sua morte.
A beleza, a incógnita, a Morte, sentou-se ao lado dela e tomaram café juntas.

domingo, 16 de outubro de 2011

Lágrimas

Eu bebi as lágrimas.
Todas elas num único gole.
Esperei pelo sal.
Senti o amargo.
Depois o doce, mais doce do que nunca.
Não entendi o sentido.
Mas o gosto foi bom.
Que a felicidade escorra pelos meus olhos agora e eu beberei o cálice cheio.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cor

...E eu odiei com toda a força do meu amor, a falta de paz

a ausência de luz

e a dor.

E sem pudor,

desejei a morte,

puni-me, chorei.

Mas odiei a dor 

Ergui-me

Sorri à luz,

e sem pudor, entreguei-me à cor.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Shiiiiiu

- Shhhhhiu! Não fala nada!
Fica quieta agora!
Tá louca? 
Tá pensando que alguém vai te ouvir?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Belo céu de cinza dia

Belo céu de cinza dia!
Que belo céu cinza!
Chuva? Não me importo com ela, agora concentro-me no cinza.
Quis muitos amarelos, muitos alaranjados e até os vermelhos, mas agora basta-me contemplar o cinza.
Eu nunca o vejo à noite, no noturno ele é tão negro, por isso sua beleza, só pode ser apreciada em dias, dias de dia e não de noite, quando o amarelo se vai, o azul se esconde e tudo tem aquele tom nostálgico.
Aquele som de cinza que lembra, biscoitos com leite, que te fazem ver de novo, como um filme em flashes, a infância, desenhos animados na TV, enquanto você está envolto numa proteção de cobertor, calor e mãe.
Em belos dias cinzas, o verde também fica diferente. Acho que ele para. Para de se mover, só para se render ao cinza, e se este quiser, o verde se curva, se prostra, saudoso.
Eu não disse que o cinza é feliz, ou que me deixa feliz. Disse: é belo.
E o é, de fato. Há muita beleza em se remeter ao triste, pois as lembranças, as dores, os temores, as aflições, tudo que nos faz chorar e que nos faz sentir, nos lembra o quanto somos humanos e não há nada mais belo que "Ser humano".
Belo dia de céu cinza...
Belo céu de cinza dia...