Ela olhou na direção do ralo do box esperando, concentrada, com toda atenção, que de lá surgisse uma barata. E esperou por 2 horas, que foi o tempo suficiente para perceber que não estava sozinha em seu apartamento. Bendisse o dia, não tomaria o café da manhã, sozinha, afinal. Nem interessava quem era, faria café para dois. Arrumou a cafeteira, ligou e esperou.
Ele/ela (intruso/intrusa), quem quer que fosse, esperou também. A cafeteira fez um sinal sonoro. Ela se levantou, ainda com seu roupão acinzentado, meio morto, arrastando os pés e apanhou duas xícaras. Xícaras de porcelana. Ah brindemos com café. Hoje é um grande dia!
Ela estava realmente feliz que fosse domingo. Estava feliz que isso fosse num domingo. Pena que não se preparara “adequadamente” para essa hora.
Serviu as duas xícaras sem ao menos olhar. Logo, derramou café quente sobre a mesa, sobre a toalha puída da mesa, aquela com desenhos de melancias, melancias fechadas, tiras de melancias. Mas ele nem nunca gostou daquela toalha mesmo. Foi um presente de quem não se sabe mais, para ninguém. Poderia dizer, sem prejuízo, que fora qualquer uma das inúmeras coisas achadas no lixo. Ninguém quer, então...
Nada para comer.
Depois de 2 minutos - a espera parecia infinita - o café já se esfriara o suficiente para se tornar repulsivo. Amargo e repulsivo, como a ânsia da ressaca. Ela estava de ressaca da vida.
-Pode vir! Você quem quer que seja! Seja minha companhia esta manhã... – o silêncio fora finalmente rompido, mas a voz dela “manquejou” no fim da sentença, como a voz dos embriagados.
Um vulto percorreu o canto do seu olho direito e se pôs ao lado dela. Era a beleza na forma humana. Podia ler tudo nos olhos dela, ver tudo. O filme. O tão falado filme da sua vida antes da sua morte.
A beleza, a incógnita, a Morte, sentou-se ao lado dela e tomaram café juntas.
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