quarta-feira, 25 de junho de 2014

Gelo

Temo dizer que aquele gelo todo, aquela avalanche branca acabou com todo o verde que tínhamos aqui. Mas foi isso mesmo que aconteceu.
Quer dizer, não sei se foi. Euzinha, não vejo outra explicação. Então, pela dedução lógica e por eu ter sido a única sobrevivente, declaro pelo poder investido em mim por mim mesma, que foi o gelo.
O vítreo que se apossou das chamas de uma suposta cidade quente, de um suposto planeta aquecido globalmente, foi ele que paralisou tudo, pessoas, carros, cachorros, árvores. Congelou mares, rios e corações. E eu aqui, narro o fim do mundo. Foi só um monte, muito, muitíssimo gelo.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A dor de Cressida (Diálogos de lobos - monólogo de Coruja)

Sempre que algum lobo ficava doente ou com algum ferimento que lhe rendia gemidos baixos ou pequenos gritos de dor, Cressida descia uns galhos; queria ficar mais próxima do sofredor.
Numa dessas noites em que a lua brilhava como um sol, ela se chegou perto para a contemplar a dor de um dos lobos. Um choro baixo, solitário. Não havia nenhum lobo consolando ou fortalecendo aquela alma canina. Cressida viu que era Cassu quem grunhia. Ela se compadeceu. Ela não podia se reconhecer ali, sentindo pena de um lobinho bobo. Ela vinha ouvir a dor e ela não costumava entrar em seu peito cheio de penas cinzentas. Ela era uma espectadora e não protagonista.
Porém, nessa noite doeu. Ela gemeu baixo. Algo perfurando seu peito.
"Vou chamar o exterminador de dores. Vai dar tudo certo. Aguente firme, Cassu." - encorajou a coruja. Voou para longe e Cassu adormeceu.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Embora ache o sofrimento proveitoso, devo ceder aqui um espaço para alguma alegria.
Sim, houve um júbilo e um suspiro, uma satisfação, um dever cumprido, uma vida compartilhada e lembranças que sempre me farão sorrir e dizer "puxa vida". E eu não vi nem a metade.