segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O monstro e o lago

Afunde esse monstro no lago!
Fure-o mil vezes para que a água penetre e ele nunca mais volte.
Deixe as algas, os peixes e os parasitas de toda sorte consumi-lo.
Faça o que eu te mando, aproveite que ele está dormindo.
Mate o monstro, jogue-o no lago.
Rápido! Antes que ele mate você!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mundo hermético (meu)

As cortinas caíram. O céu caiu, aquela paisagem com uma ponte à um tiro de distância caiu também.
Ah caíram, pessoas, carros, árvores. Tudo caindo como chuva, encontrando o chão e sumindo. Tudo falso. Quando a cortina holográfica caiu, tudo se mostrou. Tudo se mostrou falso.
O amor que eu tinha? Falso?
Ele...
Ele era minha paz, meu apoio. Eu perguntava e ele sempre tinha todas as respostas. E tinha o cabelo macio também. Um cheirinho bom e tinha um abraço perfeito. Mas ele também caiu. Não sorria mais, ficou amargo, fel. Não me dava mais seu ombro e não me chamava de querida. Não sentia minha falta. Não ia me ver. Às vezes era arrogante e rude. E quando ele foi sumindo eu percebi que naquele mundo perfeito tinha uma falha. O meu sistema hermético tinha um erro. Solúvel, eu pensara. Mas eu tentei reanimar a vida que havia nele e nada. A falha do sistema começou a me tirar o sono.
Eu comecei a pensar e pensar. Noites insones. Quando tive a ideia de tomar o remédio do sono foi que tudo começou a clarear. Foi o momento que relatei no início: as cortinas caindo. O show se revelando em seu auge. O momento em que a mocinha descobre que tudo era falso.
Ou seria apenas aquela falha do sistema que ela não deu conta de consertar?
Era um teste? Se tudo isso for um teste, eu não passei.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Real good

Hoje eu vou fingir tanto, que eu acreditarei na minha mentira.
Fingirei até me tornar parte da história toda.
Eu nunca estive tão bem. O poder de decidir o que virá a seguir todo em minhas mãos.
A mesma música em repeat infinito. Ela me obriga a dançar. Então, eu cedo.
Balanço a cabeça. Meus cabelos ficam ainda mais embaraçados.
Mas eu nunca estive tão bem.
Não pense que estou mentindo sobre estar feliz.
Eu estou fingindo e meu cérebro entendeu.
Agora é ele quem manda.
Entendeu que eu preciso dessa adrenalina, desse poder.
Agora eu sou música, dança, sorrisos.
Tudo que precisei fazer foi ligar o mp3.
Agora está tudo tão real good.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Monólogo do Lobo Cassu

Cassu sabia pelo eriçar de seus pelos que os dias frios e escuros estavam próximos. Ele queria ser o líder, almejava por isso há muito. Mas tão medroso... Como poderia?
"Mas é uma coragem tão nobre quanto não ter medo, admitir seu medo, admitir que tinha medo da lua, admitir que em vez de ser líder da matilha, preferiria ficar sozinho, enroladinho em torno de si mesmo, em um sono profundo, talvez, ouvindo Cressida, reclamando... Talvez assim."
Cassu ainda não se decidira. Cassu ainda não sabia quem ele era.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Diálogos de Lobos 3

Cassu deu duas voltas em torno de si mesmo. Já estava começando a ficar tonto e as folhas e a terra já remexidas indicavam sua passagem circular ali. Deu mais uma volta e quando tudo rodava ao redor dele, parou!
Olhou pro alto e viu o seu sicômoro favorito. Num de seus galhos repousava Cressida, a coruja zombeteira. Era dia, sol alto, nuvens, muitas nuvens. Cressida deveria estar dormindo.
Cassu a odiava, mas não conseguia ignorá-la e precisava, Deus sabe por quê, ouvir o que a caçoísta ave tinha a comentar sobre ele hoje.
- Parece que sua última conversa com Bogus não te acrescentou nada, hein Cassu! Continua confuso e andando em círculos. Eu mesma, não o compreendo. Bogus quer que você tenha sua própria matilha, que se solte dele, parece que receia que sua autoridade logo o emudecerá. Por outro lado, ele insiste em te chantagear com aquela frase idiota sobre segurança "You are safe with us!" Não sei o que é mais balela. O que será que ele quer, Cassu? Que você fique ou que você vá? Que seja um corajoso líder ou só mais um na matilha dele? Se isso fosse problema meu, eu estaria aí dando voltas com você. Sabe que me importo com você, né Cassu? Nada me faria mais feliz do que ver que você é um lobo decidido e que resolveu ficar. Se você ficar, eu fico. Sei que aprecia minha acidez e te juro que não faço por mal. Tampouco quero te pressionar. Mas você é um lobinho, apenas. Não deixe que ninguém faça a sua cabeça.
- Por que você está dizendo estas coisas, Cressida? Você não se importa, não! Você nunca desce desse seu galho maldito e inalcançável!
- Vou dormir, Cassu. Pare com essa barulheira de suas patas nessas folhas secas.
Cassu parou. A coruja era mesmo muito sábia.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Diálogos de lobos 2

- Você não precisa ser forte. Só precisa parecer que é e os outros te temerão.

- Eu não entendo. Venderei a aparência do maior lobo e todos me amarão?

- Não, eles não te amarão. Eles te temerão. Você é uma fraude, Cassu. Só precisa se convencer disso e fazer tudo muito bem. É só uma interpretação de um papel, como nos filmes. Podemos ensaiar se você quiser. Mas depois na matilha, será só você. Eu não te ajudarei. Embora eu te garanta que você sempre estará seguro conosco.

(You are safe with us).

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Perdi um amigo

Eu perdi meu amigo.
Não sei o  momento em que isso aconteceu mas o fato é claro, eu o perdi.
Ele estava aqui, ria das minhas piadas, ria de mim. Falava muito e ouvia muito. As conversas podiam ser infinitas se o sono não nos enlaçasse, se a terra  não girasse.
Agora o mundo é só dele, as conversas só sobre ele, as necessidades dele.
Eu... Eu sou só mais aquele ouvido que ouve, a cabeça que acena.
Mas é tudo tão ele, ele, ele.
Chegamos ao clímax da generosidade e da empatia x egoísmo?
Eu perdi meu amigo. Não o reconheço em nenhuma parte.
Não o reconheço em nenhuma piada, nenhuma música, nenhuma voz. Ele se perdeu e eu o perdi.
Era o ápice de minha generosidade abrigar o egoísmo dele ou era o meu egoísmo exacerbado que não suportava mais ser tão generosa?

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Passado e lembrança

Eu posso fazer meu próprio caminho
Entre o chão e o céu
Entre o possível e o miraculoso.
Eu senti isso em minhas veias quando pulsaram
A música que você gosta se tornou a minha preferida
Eu não preciso rimar para ouvir o gosto.
Entre o passado e a lembrança
A linha tênue do que aconteceu, o fato
E o que eu tinha de esperança

Quero falar de passado e de lembrança.
O que aconteceu, o que era realmente não se parece em nada com o que eu me lembro.
Era tudo tão grande, espetacular, o tempo tão longo.
Talvez os risos nem fossem tão felizes e as pessoas nem tão especiais mas as lembranças, as minhas lembranças transformam esses "fatos" em momentos, em vidas majestosos. A felicidade de que agora sinto saudades. A lembrança da infância do tudo possível. Pode ser exagero, mas para as pequenas almas, todo sorriso, toda palavra amiga, toda risada parecia maior. As pessoas que estavam lá, as crianças com seus apelidos bobos, eram as melhores pessoas, eram os que eu queria ver todas as tardes depois da escola. Meus artistas, pintores, dramaturgos, atores, comissários de bordo, meus cafés com leite. E aquela roda que girava sem fim, teria um fim, que mal sabíamos...
Eu queria nesse exato momento estar no passado que gerou essas lembranças tão grandiosas e eu queria abraçar a todos, minhas avós com seus quitutes assando, meus pais e meus tios e suas conversas de adulto, meus primos, desalinhados, correndo, cutucando... e depois brincar de roda, dar as mãos. Será que tudo ainda seria grandioso como eu acho que foi?
Quero que daqui a uns anos, o passado que agora é o meu presente traga lembranças espetaculares como se eu estivesse crescendo em graça para sempre. Deus me dá oportunidade de crescer, de aprender para sempre.
Agora a dúvida que me corroi. Será isso o meu caminho? Continuar a crescer e crescer para que a minha pequenez seja uma lembrança grandiosa? Será esse o caminho que eu farei entre o possível e o miraculoso?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ligação para Anita

- Anita, você está aí? Oi? Oi?
Telefone mudo.

Eu espero. Quanto tempo terá passado?
Ouço uma respiração. Inspira, expira. Inspira.
Ela fala:

- Sim. Eu estou aqui.

Meu peito se alivia. Parece que a voz dela, mesmo embargada, me liberta de algo. Me liberta de minha monstruosidade. E eu penso "Anita não está morta" e isso me conforta. Mesmo sabendo que ela sofre, carregar a culpa do sofrimento dela é mais suportável do que ser o assassino de Anita.

O que eu pensei? Que ela morreria por mim? Que ela morreria por estar sem mim? Que presunção!
Mas, o que eu estou fazendo? Ela não está morta. Mas eu ainda estou tentando matá-la. Eu não consigo evitar ligar para ela nas madrugadas mais silentes, nos dias mais modorrentos.

Eu ligo, espero. Espero. Sei que ela sofre. Mas eu ligo.
Eu ligo...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Música triste

Eu tentei consertar tudo.
Querido, eu ainda estou tentado.
Eu me abaixei e pedi que você pisasse na minha cabeça.
Que na explosão de meus pensamentos em tudo eu fosse você.
Será que você zomba de minha humildade agora? Porque eu sou patética.
Eu aqui implorando para que você fique só mais um dia.
O mesmo pedido que eu farei pra você amanhã e depois e depois e depois.
Porque eu estou tentando consertar tudo. Acredite. Eu estou tentando.
Eu ainda voltarei para colocar um som nessa música.
Meu violão vai vomitar minhas dores na música mais triste que você ouviu.
E aí você não terá dúvidas de que eu estou tentando.
Eu vou consertar tudo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Amor finito (parte IV)

O pequeno príncipe mentiu para mim.
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas?" (balela)
Que mentiroso! Quero dar um safanão nesse garotinho.
Quem quer ser responsável? Quem? "Responsável". Essa palavra pesa. Quem ensinou essa palavra ao menino?
Se a beleza da coisa (amor, amizade, que seja) está em ser o causador da dor? E sair de cena como se nada tivesse acontecido...
É por isso que o amor acaba. Eu firo, tu feres, ele morre.

Eu não estou questionando um clássico da literatura, hein? Longe disso! Só estou...
É, eu tô sim. Sem fantasias e sem brilhos íris hoje, ok?

Um café

Diálogo (monólogo) com o garçom (?), numa cafeteria qualquer:
Um café!
Heeeeeey, rápido, cara me traga um café!
.....eeer por favor. Mas rápido! O sono, ele tá chegando.
Ele vai me consumir. Não dá, não posso ser consumido.
Os sonhos. Eles vem. Sem falta, eles vem. E eles saracutiam com minha mente, me fazem pensar em coisas felizes mas eu tenho que ficar aqui. A realidade foi o que eu abracei, cara! Você me entende?
Entende? Aaaah traz logo esse café!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Masterpiece

Da loucura à sanidade.
E o que é são me deixa doente.
Por favor, me deixe sair.

- Masterpiece