Telefone mudo.
Eu espero. Quanto tempo terá passado?
Ouço uma respiração. Inspira, expira. Inspira.
Ela fala:
- Sim. Eu estou aqui.
Meu peito se alivia. Parece que a voz dela, mesmo embargada, me liberta de algo. Me liberta de minha monstruosidade. E eu penso "Anita não está morta" e isso me conforta. Mesmo sabendo que ela sofre, carregar a culpa do sofrimento dela é mais suportável do que ser o assassino de Anita.
O que eu pensei? Que ela morreria por mim? Que ela morreria por estar sem mim? Que presunção!
Mas, o que eu estou fazendo? Ela não está morta. Mas eu ainda estou tentando matá-la. Eu não consigo evitar ligar para ela nas madrugadas mais silentes, nos dias mais modorrentos.
Eu ligo, espero. Espero. Sei que ela sofre. Mas eu ligo.
Eu ligo...
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