quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Porta aberta

Ele me disse para escrever. Entregou-me um pequeno pedaço de papel, quase do tamanho de um post-it e um lápis, já com a ponta arredondada, grossa. Não era assim que eu queria. Sempre gostei de escrever com canetas e lápis de pontas mais finas. E aquilo me incomodava. Não tinha vontade de escrever nada. Estava um pouco tolhida, quase acuada.
- Você precisa tentar... - Disse ele calmamente, quase cantarolando as palavras.
- Não sei sobre o que escrever, por isso, vim até o senhor pedindo ajuda. Estou completamente bloqueada.
- Eu sei disso. Mas eu não sou um tipo de terapeuta, nem nada disso. Se eu tiver que fazer esse tipo de trabalho, com certeza, te cobrarei bem mais por isso.
- O que estamos fazendo, então? Estou te pagando pra me ajudar a sair desse limbo. É o seu trabalho.
- Por isso mandei escrever.
- Nesse papel minúsculo? Com esse lápis terrível?
- Sim.
- Não posso. Você está me ofendendo!
- Não se altere, por favor. Não precisa gritar. Escreve qualquer coisa aí, nesse papel minúsculo, com esse lápis terrível. - Ele ria com os olhos e sorria com o cantinho esquerdo dos lábios. Estava começando a ficar irada. Eu me irritava facilmente agora.
- Ok.
Escrevi um "não" com todas as letras maiúsculas, usando todo o espaço do papel.
Ele sorriu largamente, estendeu a mão direita na direção da porta e disse:
- Acabou o seu tempo. Até a próxima, senhorita Melinda.
Eu me levantei, peguei o papel, rasguei em minúsculos pedaços e joguei na mesa dele. Depois dei uma espalmada na mesa e saí, deixando a porta aberta.