segunda-feira, 23 de junho de 2014

A dor de Cressida (Diálogos de lobos - monólogo de Coruja)

Sempre que algum lobo ficava doente ou com algum ferimento que lhe rendia gemidos baixos ou pequenos gritos de dor, Cressida descia uns galhos; queria ficar mais próxima do sofredor.
Numa dessas noites em que a lua brilhava como um sol, ela se chegou perto para a contemplar a dor de um dos lobos. Um choro baixo, solitário. Não havia nenhum lobo consolando ou fortalecendo aquela alma canina. Cressida viu que era Cassu quem grunhia. Ela se compadeceu. Ela não podia se reconhecer ali, sentindo pena de um lobinho bobo. Ela vinha ouvir a dor e ela não costumava entrar em seu peito cheio de penas cinzentas. Ela era uma espectadora e não protagonista.
Porém, nessa noite doeu. Ela gemeu baixo. Algo perfurando seu peito.
"Vou chamar o exterminador de dores. Vai dar tudo certo. Aguente firme, Cassu." - encorajou a coruja. Voou para longe e Cassu adormeceu.

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