domingo, 19 de setembro de 2010

A menina que não acredita mais

Ela olhou novamente para baixo, antes de o encarar nos olhos.
Pela enésima vez ele lhe pedia perdão ou algo parecido. Nem era necessário mais, porque ele já havia matado tudo dentro dela. Nem precisava de perdão, de desculpas, nem dessa conversa.
Ela remexia os dedos, como sempre, que estalavam num barulhinho que ele odiava. Aliás, ele odiava tudo nela. Odiava seu cabelo, seu vestido azul estúpido, o modo como abria a boca e mostrava a língua antes de falar, como remexia as mãos freneticamente quando estava nervosa, odiava ela ser tão pequena, porque sempre se abaixava para falar com ela, odiava a voz dela que no decorrer das frases ia ficando estridente, odiava tudo, é resumindo, odiava tudo. Nem sabia porque ainda estava ali frente à ela, ouvindo-a dizer. "Ela sempre acredita em tudo, uma boba!, ele pensou. Logo vai passar! Vai sim! Ela é sempre impulsiva, fala, mas depois volta atrás". Esse era o pensamento da mente incrédula dele no momento que a menina que não acredita mais começou a falar.
Ela usava o mesmo vestido que ele sempre odiou. O cabelo do mesmo jeito meio bagunçado. Mas os gestos foram discretos, e a voz não titubeou e nem mudou de tom. Ela foi linear.
-E eu não vou mais fazer tanto esforço para acreditar,
para inventar desculpas na minha cabeça pelo seu comportamento.
Não vou mais tentar aceitar o que eu não quero só pra te agradar.
Não vou mais ficar quieta quando tiver algo contrário a dizer.
Não vou chorar por você estar se afundando num problema totalmente seu.
Você quis assim, você escolheu odiar a pessoa que mais te amou.
Aliás essa pessoa não te ama mais. Não ama porque não acredita mais!
Não acredita em nenhuma das suas palavras. Só hipocrisia!
Céus! Nem sei dizer o que foi real e o que não foi!
Eu não acredito mais. Pode dizer o que quiser!
Pode esperar o tempo que quiser, ou não. Eu não voltarei!
Vou te ouvir quando quiser desabafar, quando quiser chorar,
Mas não vou te afagar, ou dizer que tem razão ou praguejar com você contra quem te ofendou.
Vou ser uma daquelas máquinas. Coloque um real, conte seus problemas, chore e vá embora.
Viva como quiser, que na minha vida, isso não interferirá mais!


Contundente, como um instrumento de açougue, as palavras dela, atingiram muito mais profundo que ele esperava.
"Ela não acredita mais! Mas como ela pode dizer que meus problemas não inferirão na vida dela?
Ela não acredita mais! Quando ela vestir o vestido que odeio, quando acenar suas pequenas e nervosas mãos, que diferença fará? Ela não acredita mais! Meu Deus! Fiz o que de pior podia ser feito a uma menina tão doce, tão alegre, tão crente! Matei a fé, matei a crença dela. E agora a menina não acredita mais.
Meu coração agora doi, tenho vontade de chorar, mas não adianta mais. Petrificada diante de mim, a menina tem um sorriso que não posso decifrar. Ela está leve, mas não tem mais sonhos, seus olhos estão inócuos como sempre. Mas nada adianta, ela não acredita mais."
Foi no fim das palavras da menina, no início do seu sorriso, no momento do aperto de meu peito, e centésimos de segundos antes de cair minha mais dolorosa lágrima, que me virei e deixei pra trás a menina que não acredita mais.

3 comentários:

IARA disse...

OI FOFA;;;;
T DBEM
SAUDADEEEEEEEEE
BJUSSSSSSSSSSSSSSSSSS
TA LINDO O BLOGGGG

Jhow disse...

Realmente... nem sei o que comentar.
Quando vejo esse texto me lembro de
muitas meninas. Não sei realmente
são descrentes!

Jhow disse...

Eu tinha escrito o comentário a +- uma hora atras... mas esqueci de postar!!!

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