O dia começara assim, com muitas nuvens. Não se conseguiria ver o céu nem se cavássemos por três dias (isso se pudéssemos ficar de cabeça para baixo, voando e tivéssemos uma pá antigravitacional).
Eu jurei que hoje seria diferente, que eu falaria mais, que eu sorriria mais e que eu veria os animais brincarem no campo, no fim da tarde.
Abri a porta da varanda e vi aquele mundo de nuvens e comecei a retroceder. A lareira ainda fumegava restos mortais do fogo que me aquecera na noite anterior. Seria bom ficar juntinho dela, aninhado no seu calor, enrolado como um caracol.
Eu leria Moby Dick, tomaria chá, adormeceria e logo seria amanhã, ou o fim do mundo.
Resolvi, avançar mais dois passos em direção ao lado de fora da casa. Observaria mais de perto. Quando cheguei no parapeito da varanda, inspirei fundo e me enche de um gás inominado, ácido, úmido, doce, e por fim gélido. Prossegui. Desci os três degraus avançando em direção ao branco desconhecido. As nuvens agora, estavam baixas, eram névoas, totalmente brancas. Não havia tons de cinza, verde, azul, lilás, nada, apenas branco. Eu ficava cada vez mais intrigado, com medo mas curioso. Eu já vi dias frios, dias nebulosos, já morei em nuvens, mas nunca tinha visto nada tão extensivamente branco.
Dei mais uns cinco passos para frente e quando me virei, Kirito, meu labrador, passou correndo e me deu um abraço canino desmontante. Quase caí, ele seguiu em frente e desapareceu. Olhei para trás e minha casa tinha sumido. Eu não sabia para que lado ir. Tudo era muito do mesmo. Tudo tão nebuloso...
Olhei para o chão, afinal, eu tinha apenas uma certeza, que onde eu pisava era sólido e eu podia me confortar com isso. Eu não estava totalmente perdido, eu estava na minha fazenda, com meu cachorro, meus animais, minhas árvores, minha casa, minha xícara, e principalmente meu chão.
Eu me abaixei, fiz uma prece de agradecimento, pois eu tinha jurado que hoje seria diferente, mas não assim, e eu estava com muito medo. Queria a reconciliação, o perdão e parecer pelo menos a Deus, uma pessoa não tá má, não tão egoísta. Esfreguei o chão com a mão direita, e vi a grama verde cintilante, úmida. Comecei a gargalhar e chorar ao mesmo tempo, um som esganiçado por causa da minha voz rouca. Kirito reapareceu, me lambeu e se deitou do meu lado.
Eu teria o meu dia diferente, era só um dia nebuloso, sinistro. Mas eu não estava sozinho e nem perdido. Eu tinha aquele verdinho me provando que eu estava errado, que o mundo não ia acabar ainda, que eu estava me encontrando... Eu tinha o chão. Deitei e adormeci.
Juro que amanhã vai ser diferente.
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