quarta-feira, 22 de agosto de 2012

à margem

Hoje eu conheci uma senhora com o sobrenome de Boa Morte e fiquei pensando "quando a morte seria boa?"
Ela não teve pais. Só mãe. Com o sobrenome Boa Morte também; e ela morreu jovem.
Perguntei para a senhora quem a criou.
- Minha avó, que também morreu cedo. - respondeu a senhora.
- E a senhora nunca se casou?
- Não. Para quê? Só vejo gente reclamando de seus casamentos.

Silêncio.

- A senhora mora onde?
- Cada dia num lugar.
- Agora a senhora mora com quem?
- Com dona Maria e o marido dela. Eles me deixam dormir lá.

Eu nem tive mais o que dizer. Mas me arrisquei:
- Tenha fé! Vai dar tudo certo.

Ela agradeceu:
- Fica com Deus, minha filha!

Abaixei a cabeça, agradeci e desejei que a morte não a encontrasse jamais ou que antes ela tivesse um lar, um filho ou um cachorro. Algo que fosse seu. Algo que ela deixasse ao mundo, alguma parte dela, para que alguém pelo menos saiba que ela viveu, que ela sofreu mas que sentiu e que alguém notou...

Nenhum comentário:

Postar um comentário