Eu revi as palavras da carta. Uma a uma. O seu adeus escrito com uma mão firme, não titubeou nem por um instante, a tinta não falhou e a caneta eternizou naquele papel já amassado de tão (re)lido, a palavra “adeus” .
O “fique bem e seja feliz” estavam escritos sem entusiasmo, sem a força do adeus, sem dor, sem pudor, estavam ali só por estar, para não parecer mal educado. Pelo menos foi o que veio à minha mente.
Repensei também em como a vida pode ser irônica: a pessoa que te diz para ficar bem e ser feliz é a mesma por quem seu mundo caiu. É a pessoa que te faz querer gritar e abraçar o mundo, correr a Terra inteira e fazer qualquer coisa só para poder tê-la mais uns minutinhos do seu lado. Olhar seus olhos pretos e dizer que está feliz por ela estar ali. E só.
Finalmente, dobrei a carta e a pus debaixo da xícara do café que estava tomando. Foi do calor do café que me veio a ideia do fogo, a ideia de queimar a carta. Peguei o isqueiro ao lado do fogão e brinquei com a chama. O isqueiro na mão direita e a carta na esquerda.
Mas se eu queimar, quem vai me dizer as verdades que preciso ouvir? Quem me lembrará que não vou ter uma segunda vez, uma segunda chance? Se eu queimar, como a ilusão não me abrigará? Se eu queimar esse papel, isso que chamo de carta, a ilusão com certeza virá. Como das outras vezes que apaguei da mente o que você disse tão sem palavras e tão cheio delas. Eu vi tudo, tudinho bem na minha frente: “eu não quero mais” e apaguei, esqueci e vivi mais um dia e mais um dia acreditando, tentando acreditar e mentindo pra mim mesma.
A carta é, portanto, a prova de que o fim é real. Do ponto final.
Ou melhor, a carta era. Mas o que eu não me lembro mais...depois do fogo, só me lembro da saudade...
Ilusão é questão de expectativa e perspectiva.
2 comentários:
q lindo pauline! quem escreveu isso?
Fui eu mesma xD
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